Sagrado e profano de norte a sul do Brasil: a FESTA DO DIVINO Espírito Santo
O sagrado e o profano; a realeza e o povo; a diversidade e a singularidade. Assim é a Festa do Divino, a maior manifestação popular de fé e celebração do Espírito Santo – a terceira pessoa da Santíssima Trindade, junto a Deus Pai e Deus Filho, que atualmente, ocorre de norte a sul do país e tem variações, dependendo das tradições e alterações realizadas com o tempo.
O festejo trazido pelos portugueses faz parte do calendário de festas populares do Brasil e reúne muitos turistas e fiéis, que mesclam manifestações religiosas e profanas, de diversas origens e significados, uma mistura incrível de folclore, que representa bem a diversidade do povo brasileiro.
Origem da Festa do Divino
A festa tem origem na antiguidade, com a Festa de Pentecostes, que era celebrada 50 dias após a Páscoa e é uma das quatro festas importantes do calendário judaico: Páscoa, Omar, Pentecostes e Colheitas.
No Brasil, a tradição veio junto com os colonizadores portugueses, que já celebravam a Festa do Divino no século 14, incorporada ao calendário cristão pela Rainha Dona Isabel, esposa do Rei D. Diniz (1.279 – 1.325), canonizada como Santa Isabel de Portugal. Com Dom Pedro I reinando, o festejo tornou-se mais forte no Brasil Colônia, onde eram servidos banquetes coletivos com distribuição de comida e esmolas.
A festa modificou-se um pouco da original e mantem, até hoje, a seguinte tradição: é escolhido um Imperador, que gerenciará tudo sobre a festa, desde o recolhimento de donativos, a sua promoção e realização. O ponto alto é a procissão do Imperador, que representa a corte portuguesa, até a missa no domingo de festejo. O Imperador sempre ostenta a Coroa e o Cetro Imperial e é acompanhado por sua família, mordomos, pelas Virgens, pela banda sinfônica e a população em geral.
No Brasil, também se adicionou a figura dos mascarados, principalmente em Pirenópolis, Goiás. Os mascarados representam escravos e agregados que para participarem da festa saiam de mascaras para não serem reconhecidos pelos seus donos e patrões.
Durante a Festa do Divino no Brasil também acontece a Cavalhada, que representa uma luta travada entre mouros e cristãos na época medieval, mostrando toda a bravura e coragem dos cristãos enfrentando os ataques dos árabes sarracenos.
A Festa do Divino é uma celebração longa, com duração média de 20 dias, onde cada dia há um acontecimento diferente. A Festa é cheia de detalhes e, por isso, sua preparação leva meses e envolve a comunidade local, construindo uma grande rede de relações entre todos os participantes.
Festa do Divino Espírito Santo de norte a sul do Brasil
Em todas as regiões do país é celebrada uma grande Festa do Divino. Goiás, Mato Grosso, Maranhão, Paraná, Santa Catarina, Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul realizam celebrações bem famosas, que ganharam até título de patrimônio cultural imaterial do Brasil. Confira e programe-se para participar.
Pirenópolis – GO
Pirenópolis, a 123 quilômetros de Goiânia, celebra a Festa do Divino Espírito Santo em grande estilo. São cerca de 23 dias de festa, que inclui a Folia do Divino, que é a procissão pela região, onde o Imperador oferece Bênçãos de Divino e recolhe donativos; as Novenas do Divino Espírito Santo; apresentações folclóricas como as congadas, catiras e banda de couros; a Cavalhada; o Cortejo Imperial; terminando em um animado forró nos Ranchões (salões para baile).
A Festa do Divino mobiliza toda a população de Pirenópolis e, por isso, foi considerada como um “fato social real”, o que a fez ser reconhecida pelo IPHAN como Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro.
É a maior Festa do Divino Espírito Santo no Brasil e turistas e fiéis lotam os hotéis e pousadas e transformam a pacata cidade de Pirenópolis em uma grande folia coletiva. Em 2015, a festa está agendada de 1° a 26 de maio.
Alcântara e São José de Ribamar – MA
A Festa do Divino no Maranhão é bastante forte e realizada em várias cidades simultaneamente. As celebrações mais conhecidas são de Alcântara, a 420 quilômetros de São Luís, e de São José de Ribamar, ao lado da capital. Estas festas recebem bom investimento e acontecem nas chamadas “tribunas”, salões ricamente decorados que representam um palácio real.
Os festejos giram em torno do Império, um grupo de crianças que são vestidas de nobres, e apresentam várias etapas, como a abertura da tribuna, levantamento do mastro, missa e cerimônia, repasse das posses reais para outro grupo de meninos, fechamento da tribuna e o carimbó de caixeiras, tradicional na Festa do Divino maranhense. As caixeiras são senhoras devotas que cantam e tocam durante todas as etapas da celebração.
Uma curiosidade: em São Luís e em outras cidades maranhenses, a Festa do Divino tem ligação com a religião afro-brasileira, diferente de outros locais que a religião católica é a principal motivadora. As festas na capital maranhense acontecem em terreiros, onde a presença feminina é dominante.
Santo Amaro da Imperatriz – SC
Santo Amaro da Imperatriz fica a 33 quilômetros de Florianópolis, no interior de Santa Catarina, e tem uma a Festa do Divino mais tradicional do Brasil, que ocorre desde 1854, quando o local ainda se chamava Arraial de Santo Amaro.
Atualmente, a Festa do Divino em Santo Amaro da Imperatriz inicia-se com a Novena do Divino, logo após a Páscoa, e a sequente visitação da Bandeira do Espírito Santo de casa em casa levando suas bênçãos e arrecadando donativos.
A Festa mantém a tradição original, com o Imperador, os mordomos e toda população envolvida, e é realizada nos salões da Igreja Matriz de Santo Amaro. Durante as celebrações há distribuição de alimentos em um banquete coletivo, além de apresentações folclóricas e culturais.
São Luíz do Paraitinga – SP
No interior de São Paulo, a 182 quilômetros da capital, a cidade de São Luíz do Paraitinga se transforma em maio com a Festa do Divino. Anualmente, a festa começa na sexta-feira de pentecostes e segue por dez dias com procissões e missas, inclusive com cavalhada, até o chamado “Grande Dia”, onde a cidade é despertada às 6 horas da manhã com o toque da alvorada. Neste dia, há a distribuição do “afogado”, um prato típico caipira feito com carne bovina.
Durante a festa ocorrem apresentações folclóricas, como a congada, e culturais, como o casal de bonecos gigantes “João Paulino e Maria Angu”, além de muitas atrações para crianças e adultos.
São João Del Rei – MG
São João Del Rei, a 184 quilômetros de Belo Horizonte, realiza o Jubileu do Divino Espírito Santo, desde 1774, no histórico bairro de Matosinhos, que ficou famoso pela festa. Até 1998 a Festa ocorria de maneira tímida e, após esta data, o escultor sacro Osni Paiva apoiado pela população e pelo pároco do Santuário de Senhor Bom Jesus de Matosinhos retomou o festejo com mais tradição e, atualmente, há, além da procissão e missa, apresentações folclóricas e culturais.
Vale do Guaporé – RO e MT
O Vale do Guaporé corresponde a área que fica às margens do Rio de mesmo nome, quase na fronteira do Brasil com a Bolívia. Lá, a Festa do Divino é bastante importante e integra as comunidades de ambos os países.
As celebrações ao Divino Espírito Santo ocorrem durante 50 dias, com início logo após a Páscoa, e envolve todos os personagens tradicionais, como Imperador, encarregados e a população, mas cria também os remadores e mensageiros, que passam de barco pelas regiões ribeirinhas do Rio Guaporé arrecadando donativos. Ao todo, 37 localidades brasileiras e bolivianas recebem as bênçãos do Divino, e a festa final ocorre simultaneamente em várias delas, com muita música, comida e apresentações folclóricas.
Além destas, outras cidades brasileiras como Paraty, Caxias do Sul, Guaratuba, Governador Celso Ramos, Florianópolis, Diamantina, Salvador, entre outras, também realizam a Festa do Divino, uma manifestação popular grandiosa país a fora.